sexta-feira, 23 de maio de 2008

FOUCAULT: “Não é simples assim – alguém fazer o que gosta... e espero morrer de uma overdose... de um prazer de qualquer tipo. Porque acho que é realmente difícil e sempre tive a sensação de que não sinto o prazer, o prazer completo e total e, para mim, ele está relacionado com a morte.”

ENTREVISTADOR: “Por que você diz isso?”

FOUCAULT: “Por que penso que o tipo de prazer que considero o prazer real seria tão profundo, tão intenso, tão irresistível que eu não sobreviveria a ele. Morreria.”

quinta-feira, 22 de maio de 2008

"Vós, que sofreis, porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele."

-Victor Hugo-

sábado, 17 de maio de 2008

The Memory Remains

Apesar da hora, eu gostaria de já estar dormindo. Sei que não vou conseguir "pregar o olho" até pelo menos umas 3 da manhã. Por dois motivos específicos. Os dois, pelos quais, eu quase morri. O primeiro, e maior, me matou tanto que mal consigo falar sobre ele, e convenhamos, aqui não é o melhor lugar para se falar sobre isso. Primeiro, porque até agora ninguém sabe desse território escondido de canetagens pretensiosas, segundo, pois se soubessem, seria um motivo melhor ainda para não tratar de certos assuntos.
Viver de altos e baixos não é nada fácil. Hoje desejei não ser extremista pelos menos umas 20 vezes. Hoje desejei ser qualquer pessoa só pra não ter que ser eu.
O segundo motivo foi que, resolvi sair por aí e tirar umas fotos, e por causa de tais fotos, muito provavelmente não estaria aqui escrevendo essas linhas.
Fotos de locais abandonados e afastados são realmente sedutoras, mas aprendi que é preciso ter cautela (coisa difícil para uma extremista).
Agora estou me sentindo como quem saiu de um filme de terror, só que sensação é bem diferente daquela própria de quem apenas assiste. É como se aquele "Nananananana....." de The Memory Remains ficasse ecoando em minha mente o tempo inteiro. Eu lembro de quando escutava o final da música, e disse pra John que o Metallica mesmo sem uma temática como a do Iron Maiden em suas letras, conseguia reproduzir em seu som o próprio inferno, coisa que o Iron estava longe de conseguir. E aquele "Nanananana...." permanece até agora, juntamente com o som, o joelho machucado na fuga, o medo, as imagens capturadas com meus olhos, e as capturadas pela câmera.

Metallica - The Memory Remains

Woodstock 2008

Minha gaveta está cheia das minhas canetagens vagabundas, de quando através da escrita crio minhas pretensões literárias quase beatnik... histórias que por acaso não tenho vontade de viver. O "On The Road" da minha vida é/será muito menos porra-louca.
Daí eu fico pensando naqueles que querem reproduzir o passado (que por acaso não viveram) em suas vidas, e principalmente naqueles que só faltam andar pelados por aí porque simplesmente acreditam que estão em pleno Woodstock.
Essa onda de querer reproduzir movimentos que já aconteceram não deixa de ser uma fuga do presente, assim como aqueles que só fazem planos, planos e mais planos se refugiam no futuro.
Paz e Amor é um discurso muito bonito dentro dos contos das fadas hippies.
Não estou fazendo apologia à vida contrária a esse discurso, mas estou sendo a favor da vida aberta a todos os sentimentos (inclusive aqueles considerados ruins).
Não gosto de gente espaçosa, porque sou individualista e egoísta e no meu território só entra que eu quero.
Retrato fiel do capitalista filho-da-puta/impotente?
Que seja....
Só não estou afim de ficar emprestando as MINHAS calcinhas.

Escutando: Metallica - Sad but True

Tentando compor

Na minha música é assim:
ou eu grito,
ou fico muda.

sábado, 10 de maio de 2008

Versos de amor... [a um poeta erótico]

"Parece muito doce aquela cana.
Descasco-a, provo-a, chupo-a . . ilusão treda!
O amor, poeta, é como a cana azeda,
A toda a boca que o não prova engana.

Quis saber que era o amor, por experiência,
E hoje que, enfim, conheço o seu conteúdo,
Pudera eu ter, eu que idolatro o estudo,
Todas as ciências menos esta ciência!

Certo, este o amor não é que, em ânsias, amo
Mas certo, o egoísta amor este é que acinte
Amas, oposto a mim. Por conseguinte
Chamas amor aquilo que eu não chamo.

Oposto ideal ao meu ideal conservas.
Diverso é, pois, o ponto outro de vista
Consoante o qual, observo o amor, do egoísta
Modo de ver, consoante o qual, o observas.

Porque o amor, tal como eu o estou amando,
E Espírito, é éter, é substância fluida,
É assim como o ar que a gente pega e cuida,
Cuida, entretanto, não o estar pegando!

É a transubstanciação de instintos rudes,
Imponderabilíssima, e impalpável,
Que anda acima da carne miserável
Como anda a garça acima dos açudes!

Para reproduzir tal sentimento
Daqui por diante, atenta a orelha cauta,
Como Marsias — o inventor da flauta —
Vou inventar também outro instrumento!

Mas de tal arte e espécie tal faze-lo
Ambiciono, que o idioma em que te eu falo
Possam todas as línguas decliná-lo
Possam todos os homens compreendê-lo!

Para que, enfim, chegando à última calma
Meu podre coração roto não role,
Integralmente desfibrado e mole,
Como um saco vazio dentro d'alma!"

Augusto dos Anjos

Escutando: Edith Piaf - Hymne à L'Amour

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Nem tão surpresa...

Nem tão surpresa, mas se os que falam de ressentimento (não) me permitem ser um tanto ressentida, digo que de fato esperava (mas nem tanto) que tentasses colocar (mal colocados) os pingos nos "is", onde por acaso, nunca fiz questão de colocar pingo algum, esses mesmos "is" sempre ficaram transitando de maiúsculos para minúsculos, vice-versa, e até se transformavam em outras letras, nunca foram completamente "is", nunca foram completamente letras, nunca foram completamente nada. E só agora que resolvestes colocar pingo em apenas um dos três "is" é que fui me dar conta de que talvez o meu alfabeto seja outro bem diferente daquele que insisto em utilizar.
(Não) me importo.


Escutando: Pitty - Déjà Vu

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Os lugares e as pessoas

Só porque às vezes me sinto só, não significa que qualquer pessoa serve como companhia.
É estranho buscar coisas em lugares onde pessoas não me agradam.
Me pergunto como é possível que gostemos das mesmas coisas...
"Eu que não sei quem sou..."
E provavelmente, eles que não sabem quem são, ou apenas supõem que são alguma coisa...
Eles com seus dialetos e códigos, eu com os meus...
Eles com seus sorrisos e lágrimas explícitos, eu com os meus queimando por dentro....
Tenho vontade de esquecer todos os meus livros e comprar um DSM-IV.
Meu grupo sou eu.

Escutando: Faith no More - Stripsearch

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Tabacaria

[Chegou o dia mais propício pra postar Tabacaria. Acho que nenhum outro dia esse poema fez tanto sentido quanto hoje, porque em nenhum outro dia doeu tanto.]

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma conseqüência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira.
Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

Fernando Pessoa/Álvaro de Campos
Impotente até a última lágrima.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Lugar

Não há lugar aqui.
Nem composições de territórios.
Nós, de todos os lugares e de lugar nenhum.
Eu, de desejar todos os ventos, e o ar fechado na torre de tijolos.
Eu... que quando só, desejo multidão; e quando no meio de muitos, desejo solidão.
Solidão de nós dentro da vasilha, sentimentos sem vasilha, que só alguém há de entender.
Por meio de códigos, eu sei.
Minha vida é feita de códigos, mentiras, verdades e mentiras-verdades.
Mas tu sabes... tu sabes... de todas a mentiras e todas a verdades-nós... tu sabes, pois não há eu sem nós.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

"Não durmas tão cedo...

... enquanto dormes posso dar-te beijos em segredo."

Esperando as palavras, com um papel e uma caneta na mão, vou ficar eternamente.
Nada significa mais que o fato de que sou, és, somos, serei, serás, seremos... e que em face a um futuro incerto a Vontade destrói qualquer incerteza.
Só resta o medo, medo, medo...
Me dê a mão...
Te dou a mão... e a minha alma, e o meu mundo.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

"As maiores e melhores emoções da minha vida, eu as vivi em situações contrárias aos padrões morais ou legais vigentes. As grandes emoções estão sempre ligadas à superação das regras e dos limites. Quem faz as regras é geralmente um velho tolo e decrépito, que não entende de emoção nem de prazer. Quem faz as regras morais - ou quem cuida para que elas sejam obedecidas com rigor - é geralmente uma pessoa insensível às coisas do coração maravilhado. Não pode ser um poeta; geralmente é um ditador."

-Edson Marques-

terça-feira, 15 de abril de 2008

Sobre os papéis e os morcegos

Só para começar...
Os papéis não definidos me fazem perguntar: De onde vem o seu medo de morcegos?
Os papéis não definidos me fazem rir, quando o sentimento de proteção me acomete.
E pra não terminar...
É debaixo das minhas asas que se protege das asas deles.
Ah, os papéis não definidos...

Para sempre... embriaguez...

"É necessário estar sempre bêbado.
Tudo se reduz a isso; eis o único problema.
Para não sentirdes o horrível fardo do Tempo,
que vos abate e vos faz pender para a terra,
é preciso que vos embriagueis sem cessar.
Mas de quê?
De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha.
Contanto que vos embriagueis.
E, se algumas vezes, nos degraus de um palácio,
na verde relva de um fosso, na desolada solidão do vosso quarto,
despertardes, com a embriaguez já atenuada ou desaparecida,
perguntai ao vento, à onda, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola,
a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai- lhes que horas são;
e o vento, e a vaga, e a estrela, e o pássaro, e o relógio,
hão de vos responder: É hora de se embriagar!
Para não serdes os martirizados escravos do Tempo,
embriagai-vos; embriagai-vos sem tréguas!
De vinho, de poesia ou de virtude, a vossa escolha."

- Baudelaire -

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Muito longe do(a) Céu.


Achei por aqui uma Rolling Stone (agosto/2007). Depois de ler a única reportagem que parecia me interessar, mesmo sabendo que seria o mesmo lenga-lenga de sempre sobre o Guns n´Roses e o sai-não-sai do Chinese Democracy, resolvi me abrir a novos assuntos... Parei na página dedicada a uma entevista com Paula Toller e me surpreendi (o Kid Abelha pra mim sempre foi meio tedioso e nunca parei alguns segundos pra prestar atenção em alguma letra porque o som sempre me pareceu meio "contínuo", acompanhado inclusive da "contínua" feição dessa vocalista que aparece igual desde sempre). O fato é que ela já me conquistou quando disse: "Pensava em regravar coisas, depois achava um saco, ainda mais que agora está essa onda de todo mundo gravando muito chorinho, muito samba." Mulher, pensei, então você é das minhas. E então completa: "Nunca fui de seguir onda." Pronto. Isso já foi o suficiente pra eu pular pro final da revista e tecer as minhas comparações, pois, nada mais nada menos que 6 páginas da revista estavam sendo dedicadas à deusa intelectualóide dos últimos tempos: Céu (já começando pelo nome Maria do Céu, que por favor! Coisa mais "sublime", "casta" e "pura" não existe.) A "bichinha" é tão simples e humana que disse ser "muito capaz de sair pra rua" do jeito que acordou, pra comer "um pão na chapa com cafézinho". Cheguei a ficar emocionada com tamanha simplicidade e não aguentei nem chegar ao final da reportagem depois de tanta auto-promoção. O meu extremismo me impede de achar alguma graça em uma coisa tão sem-graça, pois em minha montanha-russa quando não tem Metallica, tem Edith Piaf, porque ambos conseguem ser tão intensos que passam a ser constrangedores e incomuns. E depois de tantas impressões, consigo identificar a mais evidente: Céu não caga.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"você pode não acreditar nisto
mas há as pessoas
que passam pela vida
com muito pouca
fricção de angústia.

eles se vestem bem, dormem bem.
eles estão contentes com
a família deles.
com a vida.

eles são imperturbáveis
e freqüentemente se sentem
muito bem.
e quando eles morrem
é uma morte fácil, normalmente durante o sono.

você pode não acreditar nisto
mas tais pessoas existem.
mas eu não sou nenhum deles.

oh não, eu não sou nenhum deles,
eu não estou nem mesmo próximo
para ser um deles.

mas eles estão lá ...

e eu estou aqui."

- Charles Bukowski -

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Dolce&Gabanna [?]

Uma das interessantes observações realizadas em algumas ocasiões ao longo desses dias é sobre a “apropriação” de determinados termos utilizados por alguns escritores/filósofos/artistas/etc.-etc.-etc. que por um ato de deslumbramento acabam sendo introduzidos de forma exagerada no vocabulário daqueles que desejam(?) mostrar o quanto se fizeram aplicados na realização da última lição-de-casa-para-aspirantes-a-intelectuais.


Mas o que a D&G tem com isso? Talvez muito mais do que você "leu". Consumidores fiéis, que matam e morrem ostentando roupas e acessórios, digo, termos produzidos pela nova tendência do mundo fashion: as coleções da grife Deleuze & Guattari.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008